20/10/2016

MULHERES CURADORAS



MULHERES CURADORAS
"Erveiras, raizeiras, benzedeiras, mulheres sábias que por muito tempo andaram sumidas, ou até mesmo escondidas. Hoje retornam com um diploma de pós-graduação nas mãos e um sorriso maroto nos lábios.
Seu saber mudou de nome. Chamam de terapia alternativa, medicina vibracional, fitoterapia, práticas complementares...são reconhecidas e respeitadas, tem seus consultórios e fazem palestras.
As mulheres curadoras fazem parte de um antigo arquétipo da humanidade.
Em todas as lendas e mitos, quando há alguém doente ou com dores, sempre aparece uma mulher idosa para oferecer um chazinho, fazer uma compressa, dar um conselho sábio.
Na verdade, a mulher idosa é um arquétipo da ‘curadora’, também chamada nos mitos de Grande Mãe.Não tem nada a ver com a idade cronológica, porque esse é um arquétipo comum a todas as mulheres que sentem o chamado para a criatividade, que se interessam por novos conhecimentos e estão sempre a procura de mais crescimento interno. Sua sabedoria é saber que somos “obras em andamento’, apesar do cansaço, dos tombos, das perdas que sofremos... a alma dessas mulheres é mais velha que o tempo, e seu espírito é eternamente jovem.Talvez seja por isso que, como disse Clarissa Pinkola, toda mulher parece com uma árvore.
Nas camadas mais profundas de sua alma ela abriga raízes vitais que puxam a energia das profundezas para cima, para nutrir suas folhas, flores e frutos.
Ninguém compreende de onde uma mulher retira tanta força, tanta esperança, tanta vida.
Mesmo quando são cortadas, tolhidas, retalhadas, de suas raízes ainda nascem brotos que vão trazer tudo de volta à vida outra vez.
Por isso entendem as mulheres de plantas que curam, dos ciclos da lua, das estações que vão e vem ao longo da roda do sol pelo céu.
Elas tem um pacto com essa fonte sábia e misteriosa que é a natureza,. Prova disso é que sempre se encontra mulheres nos bancos das salas de aula, prontas para aprender, para recomeçar, para ampliar sua visão interior.


Elas não param de voltar a crescer...
Nunca escrevem tratados sobre o que sabem, mas como sabem coisas! Hoje os cientistas descobrem o que nossas avós já diziam: as plantas têm consciência! Elas são capazes de entender e corresponder ao ambiente à sua volta. Converse com o “dente-de-leão” para ver... comunique-se com as plantas de seu jardim, com seus vasos, com suas ervas e raízes, o segredo é sempre o amor.
Minha mãe dizia que as árvores são passagens para os mundos místicos, e que suas raízes são como antenas que dão acesso aos mundos subterrâneos. Por isso ela mantinha em nossa casa algumas árvores que tinham tratamento especial. Uma delas era chamada de “árvore protetora da família”, e era vista como fonte de cura, de força e energia. Qualquer problema, corríamos para abraçá-la e pedir proteção.
O arquétipo de ‘curadora’ faz parte da essência do feminino, mesmo que seja vivenciado por um homem. Isso está aquém dos rótulos e definições de gênero.
Faz parte de conhecimentos ancestrais que foram conservados em nosso inconsciente coletivo. Perdemos a capacidade de olhar o mundo com encantamento, mas podemos reaprender isso prestando atenção nas lendas e nos mitos que ainda falam de realidades invisíveis que nos rodeiam.
Um exemplo? Procure saber mais sobre os seres elementais que povoam os nossos jardins e as fontes de águas... fadas, gnomos, elfos, sílfides, ondinas, salamandras...
As “curadoras’ afirmam que podemos atrair seres encantados para nossos jardins!
Como? Plantando flores e plantas que atraiam abelhas e borboletas, gaiolas abertas para passarinhos e bebedouros para beija-flores.
Algumas plantas ‘convidam’ lindas borboletas para seu jardim, como milefólio, lavanda, hortelã silvestre, alecrim, tomilho, verbena, petúnia e outras.
Deixe em seu jardim uma área levemente selvagem, sem grama, os seres elementais gostam disso. Convide fadas e elfos para viverem lá.
Lembre-se: onde você colocar sua percepção e sua consciência, a energia vai atrás."
~ Texto escrito por Mani Alvarez Coordenadora do curso de pós-graduação em Práticas Complementares em saúde.

18/11/2014

OS ESPÍRITOS DA NATUREZA




As antigas culturas e tradições, de todo o mundo, conheciam e honravam a existência de seres espirituais dos reinos da natureza, bem como os seres sobrenaturais de vários planos sutis. Apesar do ceticismo moderno, que levou à perda do contato com a dimensão sutil e mágica do universo, somos permanentemente cercados por seres espirituais, que podem influenciar nossa vida de maneiras positivas ou dramáticas. Ao resgatarmos nossa conexão ancestral com a “Grande Família”- da qual fazem parte todos os seres da Criação -, iremos reconquistar a nossa plenitude interior, a percepção sutil e o olhar “mágico” para ver e sentir tudo o que está ao nosso redor. Se abrirmos sem reservas o nosso coração e a nossa mente para buscar a sintonia com nossos “irmãos menores” e a integração no fluxo da vida, ultrapassaremos a ilusão da separatividade e a nossa pretensa superioridade.

Em várias tradições, os seres da natureza são descritos como fazendo parte de três reinos: o mundo subterrâneo, o mundo mediano (físico e humano) e o mundo superior ou cósmico, ao qual pertencem principalmente os seres sobrenaturais. No entanto, a realidade é mais complexa e abrangente, pois o espírito permeia o Todo e tudo que dele faz parte. Todas as manifestações da realidade têm um aspecto espiritual, que pode aparecer de maneira ativa ou passiva, de curta ou longa duração. Os espíritos de um determinado ambiente natural são tão variados quanto a fauna e a flora;  por existir  um contínuo movimento de desenvolvimento e mudança, que diminui os limites entre as diversas formas, a gama das suas apresentações fica muito mais ampla e diversificada. As classificações dos seres espirituais dependem da cultura ou escola metafísica, existindo  nuances entre as divisões mais tradicionais. De forma simplista, podemos usar a divisão em devas, espíritos elementais e os seres elementares.

Devas

Os devas são seres sutis, de vibração elevada, celestes e brilhantes, cuja estrutura é etérea e especifica ao elemento ao qual pertencem. Eles atuam como intermediários entre os anjos e a humanidade, associados a determinada área ou forma vegetal, mais ligados ao “mundo verde” do que às coisas materiais ou intelectuais. Por serem naturalmente alinhados com a Fonte Divina, eles guardam na sua consciência a matriz ou a memória do substrato ao qual são ligados, na sua forma mais perfeita. Em outras palavras, têm acesso à “ideia perfeita” da criação, antes da sua manifestação na realidade física e que representa o alvo dos seus esforços. Porém, a sua habilidade de criar formas perfeitas pode ser prejudicada ou bloqueada pela poluição – do ar e da terra -, pelas catástrofes naturais ou pelo campo mental, emocional e material humano.

Os devas são seres evoluídos, possuindo chacras, cujo número e tamanho mostram a natureza e o grau de elevação do seu trabalho. São semelhantes aos anjos, dos quais se diferenciam pela quantidade e qualidade da luz irradiada, seu trabalho sendo conjunto e entrelaçado, sem que haja uma demarcação clara, apenas uma mescla ou sobreposição de funções. Os devas recebem as energias irradiadas pelos anjos e as retransmitem para os níveis astrais de menor vibração, onde existem outros espíritos da natureza. São seres grupais, entrelaçados pelas energias e padrões vibratórios do seu respectivo grupo; uma “família” formada por muitos seres dévicos tem uma única consciência e alcança uma maior área de atuação, sendo ligada às divindades. Os devas são associados a certos lugares específicos, como montanhas, rochedos, geleiras, planícies, florestas e áreas cultivadas, onde supervisionam os processos naturais, emitindo impulsos adequados para o desenvolvimento harmonioso de cada habitat. Devido à sua consciência expandida, um deva pode abarcar todos os processos do plano em que atua, bem como coordenar as atividades dos espíritos de menor evolução. Por serem conscientes das atividades dos seres humanos, respondem com uma aceleração da sua vibração e luminosidade a todos os que percebem, admiram ou se alegram com a sua presença, podendo, em certas ocasiões, ter contatos telepáticos com eles. A vibração dos devas é luminosa e harmoniosa, alegre e compassiva, eles não têm opiniões individuais, nem julgam o que acontece ao seu redor.

Existe um tipo especial de devas, que não são confinados apenas nas áreas puras ou selvagens da natureza, mas se encontram nas cidades, perto de usinas, empresas e moradas e que trabalham para “limpar” a terra, o solo, o ar poluído e a egrégora humana e animal. Os de níveis mais elevados aparecem como anjos que cuidam dos doentes, de crianças e animais domésticos, das estações elétricas, do tratamento de resíduos tóxicos e do lixo, com a mesma dedicação como os que cuidam de árvores e flores. Às vezes, a poluição, a negatividade e densidade do ambiente físico e psíquico podem baixar a sua vibração e alguns deles desenvolvem padrões comportamentais negativos, que exigem a ajuda e a compaixão dos seres humanos mais evoluídos e conhecedores de técnicas de transmutação, cura e elevação espiritual.
Isso pode acontecer com os espíritos de todos os reinos, dando origem às histórias dos “espíritos maus”, que aumentam a egrégora negativa repleta de medos, maldades, violências, doenças, desequilíbrios diversos, juntamente com seus efeitos reais sobre os seres humanos, que podem responder com o mesmo teor energético (no nível mental, emocional, psíquico, material, mágico), de forma consciente ou inconsciente e criando assim os seres elementares, de baixo teor vibratório. Estes seres aparecem como fantasmas, larvas astrais, “encostos”, “quiumbas”, obsessores ou vampiros energéticos, cuja descrição foge ao propósito deste artigo.

Espíritos elementais

Tudo no mundo físico, incluindo os seres humanos, é formado pela combinação dos quatro elementos estruturadores - fogo, água, ar e terra – sendo que um ou mais destes elementos podem predominar na sua constituição. Desde Aristóteles é também levado em consideração um quinto elemento, a “quintessência”, o éter, de origem celeste e radiante, ligado à essência espiritual. Os seres menos evoluídos pertencem a um só elemento específico e têm uma vibração energética simples; os mais evoluídos são complexos e conectados a outros elementos além do seu próprio. Por exemplo, um elemental da tempestade combina na sua estrutura ar e água, além de ter a presença do fogo nos relâmpagos. Um grupo maior destes elementais forma um titã ou gigante, que são os mais antigos seres, associados às grandes mudanças climáticas e planetárias, responsáveis por terremotos e maremotos, deslizamento das placas tectônicas e o movimento dos continentes.

Alguns destes espíritos são compostos de matéria astral e etérea, que lhes dá uma aparência radiante. Eles canalizam as forças astrais para vitalizar o campo etéreo e as retransmitem para sua manifestação no mundo físico, tendo um maior nível de consciência do que os que trabalham apenas no campo etéreo. À medida da sua evolução, eles podem se individualizar tornando-se conscientes do seu ambiente e interagindo com as forças ao seu redor. Eles não têm livre arbítrio, mas têm vontade própria, podendo responder em função das suas ações e propósitos dentro do seu campo de atuação. Na sua aparência, aqueles que auxiliam os seres humanos assumem feições ou características humanas, por serem formados da mesma matriz e com a mesma geometria sagrada. Mas nos ambientes em que as pessoas não conseguem viver sem suporte artificial - como nos oceanos ou na profundidade da terra – suas formas variam, alguns aparecem como seres indefinidos ou grotescos, tendo esboçados a cabeça, o corpo e os membros. Eles possuem centros energéticos simples, alguns são alados, principalmente os associados a plantas, ar e fogo, diferenciando-se assim dos associados à água, mais fluidos e mutáveis e à terra  e rochas, mais densos.

Os seres elementais são conhecidos como “criadores de formas”, pois traduzem as formas mentais dos anjos menores em formas etéreas e depois físicas. Possuem corpo etéreo, falam e se comunicam entre si, se nutrem energeticamente e se reproduzem. Não podem ser destruídos por elementos materiais, mas não são imortais, podendo viver entre 300 e 1000 anos; quando seu trabalho termina, são reabsorvidos no oceano do espírito. Seu tamanho é variável e pode ser mudado junto com a sua aparência, mas usando o mesmo elemento de origem, que é responsável pela sua classificação em gnomos, salamandras, silfos e ondinas.

Os Gnomos, fazem parte do elemento terra, cuidando dela, bem como dos minerais, metais, plantas e árvores. Sua aparência é rude, com feições envelhecidas ou retorcidas; eles compreendem o que veem e ouvem, tendo uma consciência clara, com percepção interior, conhecimento imediato e intelecto universal. As plantas recebem as energias cósmicas e as conduzem para o solo, onde os gnomos coletam a informação e a retransmitem à terra e aos minerais. Eles vivem em comunidades debaixo da terra, nas florestas, grutas ou frestas sendo regidos por Gobi; são ariscos e não confiam nos seres humanos, muito sensíveis às fases da Lua e evitam os raios solares que podem petrificá-los. Conhecem-se vários subgrupos: dríades, anões, pigmeus, leprechaunskobolds, browniesland-vaettir, espíritos protetores das casas, sátiros e faunos, entre outros.

As Salamandras pertencem ao elemento fogo e diferem entre si pelo tamanho (que elas podem modificar), aparência e qualidade, sendo os elementais mais poderosos, no nível construtivo ou destrutivo. As salamandras atuam como mediadoras entre os anjos e os níveis físicos da criação. Seu regente é Djin e elas são consideradas agentes de transformação, envolvidas nos processos de decadência, morte e regeneração. Aparecem como seres radiantes - nas chamas das fogueiras ou dos vulcões (onde podem assumir formas humanas com aspecto demoníaco) - ou como luzes brilhantes oriundas dos processos de decomposição (conhecidas como “fogo-fátuo” visto nos cemitérios).

Os Silfos são ligados ao elemento ar e têm a frequência vibratória mais elevada, possuindo tamanhos variáveis, do pequeno ao gigante; são seres voláteis e mutáveis, alados ou não, podendo assumir formas humanas por pouco tempo. Seu regente é Paralda, seu veículo o vento, trabalham no éter e aparecem como seres amistosos, que ajudam os seres humanos nas artes criativas, conferindo-lhes inspiração. Eles vivem no topo das montanhas por centenas de anos e não aparentam envelhecer, mas são sensíveis às mudanças atmosféricas. Podem aparecer no meio das nuvens, nos redemoinhos de poeira e nos tufões; são associadas aos pássaros e às borboletas e transferem luz para as plantas.Em algumas tradições consideram–se os elfos e as fadas como pertencendo aos silfos, porém com características e tributos diferenciados.

As Ondinas habitam no interior da água, controlam suas funções e acompanham seu movimento, cuidam das plantas aquáticas e dos seres que habitam nas águas. Aparecem com lindas e graciosas formas femininas, às vezes tendo caudas de peixes e cavalgando as ondas, envolvidas por uma substância etérea, luminosa e iridescente, que brilha com as cores do mar, predominando verde e azul. Também são encontradas nos rios, fontes, córregos, cachoeiras e lagos, como lindas e louras jovens, penteando seus longos cabelos. Às vezes moram nas cavernas de corais ou sob as pedras do fundo do mar ou rio, se escondem entre as raízes das plantas aquáticas, deslizam brincando nas cachoeiras ou ficam nas rochas das margens dos rios. As ondinas trabalham com a essência vital das plantas, dos animais e seres humanos, estando presentes em tudo que contém água; sua regente se chama Niksa, que elas servem e obedecem com amor. São seres sensíveis e emotivos, sonhadores e mutáveis, que adoram música e dança; aparecem e desaparecem com rapidez, mas também podem assumir comportamentos prejudiciais aos homens, atraindo-os e os encantando, para depois deixá-los se afogarem. Dependendo do seu habitat e da sua tradição de origem, seus nomes variam entre sereias, ninfas, náiades, oceânides, nereidas, iaras ou nixies.

Além dos seres ligados essencialmente à natureza, existem elementais associados à estrutura humana.

Elemental dos Grupos: formado junto com a estruturação de um grupo, sua força e energia dependem das emoções, pensamentos e integração dos seus membros. Ele influencia os integrantes conectando-os e permitindo - ou barrando - a entrada de um novo membro, se o seu campo emocional ou mental for dissonante da egrégora grupal.

Elemental do Corpo: é situado no corpo etéreo, sendo a sua função criar a forma física do corpo (na concepção e gestação), depois cuidando do seu crescimento e amadurecimento, até a morte. Ele é responsável pelo bem estar do corpo, manipulando as energias da natureza, transferindo-as para os corpos sutis e depois ao físico, ajudando assim na homeostase cotidiana. É um fator importante na autocura, por conhecer intimamente a estrutura molecular até o nível celular (DNA) e por ter ajudado a criar o corpo, como um invólucro temporário da alma. Ele sabe onde os traumas e as memórias são armazenados e tem o mapa dos lugares com problemas energéticos ou físicos, sendo capaz de resgatar a informação e liberar o conhecimento atávico para ajudar no processo de cura. Acredita-se que é localizado entre o plexo solar e cardíaco, conectando alma e corpo com a mente divina, seu fluxo energético seguindo a coluna vertebral até a cabeça. Pode ser contatado durante a meditação, nas sessões de cura ou regressão de memória, mas ele não pode atuar sozinho, cabendo à pessoa assumir a responsabilidade para mudar e melhorar seu estilo de vida.

Para isso é importante que cada um de nós cuide da sua alimentação, atividade física, repouso e higiene mental, modificando comportamentos prejudiciais e tóxicos, buscando a conexão e sintonia com os reinos da natureza, empenhando-se no aprimoramento espiritual e na ampliação da sua consciência, para assim se integrar e harmonizar com todos os seres, elementos e reinos da Criação.

O CULTO DOS ANCESTRAIS


“Eu vivo, porém não viverei para sempre.
Somente a Mãe Terra vive eternamente”...
Canção dos índios Kiowa
A morte faz parte do ciclo da vida, assim como o dia alterna-se com a noite, a luz com a sombra. A sombra da proximidade da morte nos permite compreender e respeitar o delicado equilíbrio da vida. Assim, seremos capazes de aceitar a continuidade da vida nos nossos descendentes, pois nós também somos a continuação da linhagem ancestral. As gerações nascem, crescem, florescem, amadurecem e decaem, feito frutos de uma mesma árvore, transformando-se no adubo rico necessário para a próxima colheita.
A veneração dos ancestrais mantém viva a conexão entre as gerações, os vivos reconhecendo e agradecendo àqueles que trilharam antes os caminhos, abrindo portas e deixando o legado das suas experiências e realizações.
De uma forma ou de outra, todas as antigas culturas do hemisfério Norte reverenciavam os mortos, com celebrações e oferendas realizadas no final do outono, quando a própria natureza entrava em declínio. Festejavam-se ao mesmo tempo a última colheita, o abate dos animais para garantir a sobrevivência humana durante os meses de inverno e a lembrança daqueles que tinham passado para o mundo dos espíritos, ao longo do ano.
Os nomes das comemorações dos ancestrais variavam de um país para outro – “Pitra Visarjana Amavasya”, na Índia; “O Dia das almas errantes”, no Tibet; “Festival Obon”, no Japão; e “A festa dos fantasmas famintos”, na China. Na África, em Daomé (atual Benim), celebrava-se “colocar a mesa”; na Sicília, na festa dos “I Morti” as mesas eram postas com “armuzzi” – “as mãos do morto” modeladas em massa de pão, enquanto no resto da Itália os doces de clara de ovo com amêndoas e açúcar eram chamados de “ossi di morti”. No México, até hoje, os familiares fazem piquenique nos cemitérios, levando para os túmulos enfeitados com guirlandas de calêndulas os pratos e as bebidas preferidas dos falecidos. O dia de Los Muertos mexicanos não é uma comemoração macabra ou grotesca, mas uma maneira alegre, divertida e espontânea de reconhecer a inevitabilidade da morte. Ela aparece nos brinquedos das crianças (representada como soldado, herói, policial, médico, dentista, jogador de bola, professor, noivo ou noiva), nos enfeites de açúcar e nos doces, modelada como caveira ou esqueleto e nas “calaveras” – cartões e imagens de caveiras coloridas com dizeres engraçados trocados entre os amigos. Todos têm um esqueleto, todos vão acabar no cemitério, portanto, é melhor se acostumar desde criança com esta realidade.
As datas dos festivais dos mortos também diferiam de uma cultura para outra. No Egito, a baixa do Rio Nilo, em novembro, marcava o início de “Isia”, a celebração de seis dias que lembrava a morte do deus Osíris.
Procissões, drama sagrado, cânticos e danças reencenavam a sua morte e ressurreição, bem como a celebração do retorno das almas para visitar seus familiares. Lamparinas iluminavam suas antigas moradias e os caminhos para orientá-las, os templos e as casas eram enfeitados com flores e oferendas de comidas e bebidas.
Do Egito, este costume se espalhou pela Europa e foi preservado e adaptado pelos povos celtas. Por serem povos pastoris, os celtas dividiam o ano em duas estações – o verão, quando o gado era levado para os pastos, e o inverno, quando era trazido de volta.
Samhain”(pronunciado “souen”) era o festival celta dos mortos celebrado no dia 31 de outubro, considerado o primeiro dia de inverno e o início do Novo Ano. Neste dia, os véus entre os mundos se tornavam mais tênues, as almas transitavam mais facilmente de um lado para outro. Além dos familiares mortos, outros seres se manifestavam nesta noite – fadas escuras, elfos, almas perdidas, espíritos zombeteiros. Para se protegerem deles, os celtas usavam máscaras de animais e acendiam fogueiras nas colinas para guiarem os espíritos dos seus ancestrais de volta para suas antigas casas, enfeitadas com lamparinas de abóbora ou nabo colocadas nas janelas e nas portas.
Durante séculos, o cristianismo tentou, em vão, suprimir os festejos de três dias do Sabbat Samhain. Por não conseguir, apelou para o sincretismo religioso, criando o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados, sobrepondo a data cristã ao antigo festival pagão.
Os milhões de emigrantes europeus (principalmente irlandeses que estavam sem meios de sobrevivência após a grande fome de 1846) levaram para sua nova pátria – os EUA – seus costumes e práticas ancestrais. Surgiu, assim, a festa profana de Halloween, pela metamorfose dos significados antigos (máscaras, fantasmas, lanternas, comidas), disfarçados em apresentações caricaturais (bruxas, chapéus pontudos, perucas coloridas, vassouras, lanternas de abóboras, caça aos doces – este costume sendo uma reminiscência do hábito antigo de dar esmolas aos pobres e comida para as almas). O comércio e Hollywood contribuíram, em muito, para tornar o antigo festival Samhain em festa folclórica, infantil ou em um simples baile de máscaras.
Mesmo assim, alguns povos ainda preservam de forma autêntica as tradições dos seus ancestrais. Os nativos norte-americanos celebram até hoje, na primeira lua cheia após o solstício de inverno, o retorno dos Kachinas – os espíritos dos seus antepassados, com o Festival Soyal, que inclui danças com máscaras, fogueiras e oferendas.
No Japão, o Festival Obon é celebrado durante 18 dias, requerendo uma esmerada preparação prévia dos templos, jardins, casas para a recepção dos “shugoray” – os espíritos dos ancestrais. As famílias se reúnem e invocam os espíritos com danças circulares que induzem a um estado de transe, facilitando percepções paranormais e manifestações de ectoplasmia e telecinésia. Antes de Obon, os familiares vão em peregrinação para os cemitérios, limpam a área, plantam flores e deixam oferendas de comidas, bebidas e imagens de cavalos (para ajudar o deslocamento dos espíritos entre os mundos). No último dia do Festival, os ancestrais estão sendo encorajados para voltar para a “Terra dos Mortos” e enormes fogueiras são acesas para lhes iluminar o retorno.
Sântandrei na atual Romênia (antiga Dácia) era uma celebração com data fixa (30 de novembro), dedicada a um antigo deus daco, protetor dos lobos, transformada pela igreja ortodoxa no dia do Apostolo André. Antigamente, esta data coincidia com a Brumália romana e as Dionisíades gregas, festas com muitas comidas, danças e bebidas. Era considerada “a Noite dos Strigoi” (vampiros), tanto dos vivos – os espíritos que saiam dos seus corpos durante o sono - como dos mortos, que abandonavam seus túmulos, visando criar sofrimentos aos seres humanos e animais. Acreditava-se que durante esta noite, os mortos vivos, strigoi e almas errantes podiam perambular à vontade, tirando o leite dos animais e a virilidade dos homens, espalhando doenças e malefícios ou brigando entre si.
Os strigoi vivos eram espíritos de pessoas que nasciam com um defeito físico ou característica estranha (rabo, placenta colada na cabeça, manchas no corpo, dedos a mais ou menos, corcova). Eles saiam dos seus corpos e se esgueiravam pela porta ou chaminé, depois davam três cambalhotas, assumiam o corpo de um animal (gato, cachorro, galo, porco, carneiro, cavalo, sapo), montavam uma vassoura, barril ou roda de fiar e iam se encontrar com os strigoi mortos nas encruzilhadas, florestas distantes ou lugares ermos. Lá, eles reassumiam a forma humana e começavam a brigar e lutar entre si, até que um deles vencesse e se tornasse o condutor de todos durante um ano. Em seguida, curavam milagrosamente suas feridas e voltavam antes da meia-noite pelo mesmo caminho e maneira como tinham vindo.
Os strigoi mortos eram espíritos que não tinham alcançado o além após seu enterro, ou que não mais quiseram voltar para lá depois dos dias de visitar seus parentes nas datas especiais como Natal e Sântandrei. Tendo saído da realidade comum e sem ter alcançado o “outro mundo”, eles se tornavam muito perigosos para os vivos, trazendo doenças e pragas, prejudicando a terra, as colheitas, o gado e as abelhas, manipulando fogo e água. Eles se originam dos strigoi-vivos quando eles morrem, de outros mortos que não receberam ritos adequados de enterro ou oferendas nas datas adequadas, ou que não traziam consigo as moedas necessárias para pagar o “pedágio” exigido na transição de um mundo para outro. Por isso, a “moeda do morto” era amarrada num lenço preso no seu pulso ou enfiada na sua boca.
Na noite de Sântandrei as pessoas comiam alho e esfregavam com ele as portas e janelas das casas, dos estábulos e depósitos de cereais, bem como as tetas das vacas e das ovelhas, para que os strigoi não se alimentassem do leite, nem prejudicassem pessoas ou animais. Todavia, era também uma noite favorável aos encantamentos de amor e às magias de proteção contra fantasmas e lobisomens, já que os lobos recebiam dons especiais de seu padroeiro Eram feitos vários encantamentos, predições oraculares para fins meteorológicos e orientações agrárias, feitiços de amor e talismã de proteção.
Deste amálgama de informações e costumes, cada pessoa pode criar uma homenagem pessoal para seus antepassados, seja criando um pequeno altar na sua casa (colocando fotos, objetos, lembranças no canto especificado pela sabedoria Feng Shui), seja preparando um pequeno altar externo (como na Tailândia), usando uma miniatura de casa (como uma gaiola de pássaros), pintada com símbolos que propiciem o renascimento para “recepcionar” os visitantes do Além. Alternativa mais comum é seguir o costume vigente, levando flores para seus túmulos, encomendar um culto ou visualizá-los envoltos pela Luz Maior.
O importante é reconhecer o seu legado, reverenciar a linhagem ancestral, preservar as tradições antigas e honrar sua sabedoria lembrando a frase de Kahlil Gibran:
“Todos os que viveram no passado vivem em nós agora. Que possamos honrá-los como hóspedes valiosos”.
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Obrigada, pela visita. Beijos de luz violeta na alma.